Um facto que investe tudo

Numa circunstância que favorece em mim e nos meus filhos a alegria de vivermos com um sentido maior, de vivermos mais para a comunhão...

Uma coisa que experimentei é que somos mais feitos para o "significado" do que para o "tudo bem, tudo normal":

Quando fui buscar os meus filhos no dia que o colégio fechou, e lhes expliquei toda a situação - o drama da falta de ventiladores, a valentia e sacrifício dos profissionais de saúde, a solidão dos doentes, e como, mesmo não correndo grande risco nós, novos e saudáveis, tínhamos de fazer o sacrifício de nos isolar para não pôr em risco outras pessoas mais frágeis, e como deveríamos aceitar os desconfortos e privações na eventual falta de algumas comidas ou outros bens de menor necessidade - no fim de explicar, vi neles não medo ou queixume, mas uma seriedade e mesmo um coração inflamado, a consciência de estar a viver um tempo grande, de responder a uma missão...

Também me tenho surpreendido a acordar de manhã com mais ânimo e fazer o que tenho para fazer com menos lamúria ou enfado, porque agora torna-se urgente a oferta.

Claro que isto foi pouco posto à prova porque estamos todos bem, e os dramas reais não nos são ainda muito próximos. E como contei hoje na Escola de Comunidade, conto-lhes as notícias difíceis para que não vivam alienados nas suas " férias" mas em comunhão com todos...

Mas sendo verdade que a oferta sempre foi necessária antes, que a gratidão sempre foi a única resposta adequada antes desta pandemia, a verdade é que esta é uma circunstância que favorece em mim e nos meus filhos a alegria de vivermos com um sentido maior que o "estar bem", tal como um dia me apercebi que sou ainda mais feita para a comunhão do que para a " saúde"...

E que diferença faz viver nesta certeza de um significado, nesta paz de responder a uma vocação.
Susana, Lisboa