Um salto impossível

... Deixar os discursos ponderados e coerentes com todas as respostas certas e verificadas, os pensamentos que dominam sistematicamente a minha vida, sempre com “aquilo que eu achava”, e agarrar, com as duas mãos, uma nova condição: a condição de filho!

A experiência de Jesus presente foi muito evidente na Peregrinação deste ano a Fátima, fundamentalmente através daquelas pessoas que nos fazem perceber que Jesus é a resposta aos desejos do nosso coração. Refiro-me ao que D. Giussani chamou “a autoridade”.
De facto, a Peregrinação que vivi nestes dias de outubro conjugou várias realidades, foi um misto de sensações e de perceções, mas, em todos os momentos, o caminho que encontrei sempre foi o caminho para o Pai. Viveu-se a verdadeira companhia naquele percurso, naquele ambiente, na vida que se partilhou naqueles cinco dias. E, como diz Giussani, o fator mais importante da companhia é sem dúvida a autoridade. Reconheci a autoridade, neste sentido, em muitas pessoas e em muitos momentos. Senti-me constantemente rodeado de pessoas apaixonadas por Jesus, magnetizadas por Ele, e que produziram em mim, uma convicção, uma certeza do caminho que estava a cumprir.

Na minha experiência com o Movimento, quero eu dizer, com os amigos do Movimento, tenho conseguido sentir esta proximidade com Jesus, muito pelo reconhecimento desta autoridade que me tem libertado e que me tem proporcionado olhar e perceber os outros de uma forma mais completa e profunda. Numa palavra, dar um salto que até há bem pouco tempo pensaria impossível: o de, gradualmente, deixar os meus discursos ponderados e coerentes com todas as respostas certas e verificadas, os meus pensamentos que dominavam sistematicamente a minha vida, sempre com “aquilo que eu achava”, e agarrar, com as duas mãos, uma nova condição: a condição de filho, através da relação filial que estabeleci com todas as pessoas que me remeteram, não para elas, mas para Jesus, para aquele espanto pela Sua presença.

Na peregrinação esta liberdade de espírito que, como dizia o nosso visitor numa das últimas assembleias, me faz sangrar o coração, foi sentida por mim de forma muito mais clara e forte. Reconheci-a todos os dias e em muitos momentos: nas pessoas que nos guiavam e orientavam no caminho, nas que nos ajudavam e partilhavam experiências e testemunhos todas as tardes nas Escolas de Comunidade, naquelas que nos preparavam os pequenos almoços todas as manhãs bem cedo, e, e,…
Mas não posso deixar de testemunhar, de forma especial, os momentos em que tive esta experiência mais visível. Refiro-me aos voluntários que nos trouxeram e serviram os jantares desde Lisboa, roubando tempo ao descanso e à família, entregando-se totalmente ao serviço aos peregrinos. E sempre disponíveis, alegres e humildes, mesmo sabendo que no fim da noite e de todas as tarefas de arrumação e limpeza, tinham ainda muitos quilómetros para fazer de regresso a casa. E que no dia seguinte bem cedo, e com prejuízo da sua organização familiar e pessoal, tinham ainda de devolver as caixas no restaurante que fornecera as refeições.

Aquilo que me impressionou não foi tanto a execução das tarefas, mas aquilo que estava para além das pessoas e do que elas faziam, isto é, aquilo que elas efetivamente são. Já não eram os nossos amigos do Movimento. Eram os nossos “pais”, as “autoridades” magnetizadas por Cristo que nos mostravam a vida plena. Que exemplo de autoridade! Que forma tão bonita de nos mostrar Cristo vivo e presente na nossa vida! Senti-me tal como Pedro quando foi confrontado por Jesus quando lhes perguntou quem pensavam os apóstolos que Ele era!

Dou graças a Deus por esta experiência e rezo para ter um coração simples e pobre para continuar a reconhecer Cristo nos outros e viver a novidade que Ele nos anunciou com aquele magnetismo que reconheço nas autoridades que eu sigo todos os dias.
Luís, Lisboa