
Prosperi: «Juntos por um anúncio de esperança»
No Avvenire, o Pentecostes dos movimentos com o Papa nas palavras de Davide Prosperi, presidente da Fraternidade de CLEstamos muito gratos ao Papa Francisco por ter convocado, no contexto do Jubileu, um momento dedicado aos movimentos, às associações e às novas comunidades por ocasião do Pentecostes, como São João Paulo II fez em 1998 quando quis encontrar os movimentos eclesiais pela primeira vez na Praça de São Pedro.
Naquela circunstância, don Giussani discursou dizendo que «o Mistério como misericórdia continua a ser a última palavra, mesmo sobre todas as piores possibilidades da história». Uma afirmação que continua dramaticamente válida hoje, no momento em que a guerra assumiu dimensões mundiais e as divisões parecem impossibilitar o diálogo e o encontro entre povos e culturas, mesmo no seio da nossa sociedade. Por isso mesmo, reconhecemos o valor profético das primeiras intervenções do Papa Leão XIV, que se dirigiu ao povo com as primeiras palavras pronunciadas pelo Ressuscitado: «A paz esteja com todos vós!», sem esconder o sacrifício que implica o dom de uma «paz desarmada e desarmante». Um apelo, este último, que retoma e desenvolve as posições expressas pela Igreja nas últimas décadas, e diante do qual pretendemos pôr-nos atentamente à escuta para o podermos acolher e fazer nosso nas suas razões profundas.
A eleição do Papa Leão XIV fez-nos saborear a beleza da continuidade da experiência cristã na condução da Igreja, embora dentro de sensibilidades que podem ser diferentes. Nas suas primeiras intervenções a partir do trono de Pedro, mas já na sua biografia, parecem de facto conjugar-se a fidelidade à doutrina tradicional com o impulso profético para os novos desafios da modernidade, mas também o ímpeto missionário e a abertura humana para quem está mais longe e é mais fraco. Isto marca a ação do Espírito Santo, que através de diferentes vozes comunica um único anúncio, como de resto pudemos ver por ocasião do Conclave, no qual uma maioria muito ampla se impôs num tempo realmente muito curto, a despeito das suposições de não poucos comentaristas.
Comunhão e Libertação é parte integrante desta Igreja em caminho e estamos entusiasmados com o convite do Papa Leão a fazermos nosso aquele que é o seu «primeiro grande desejo: uma Igreja unida, sinal de unidade e comunhão, que se torne fermento para um mundo reconciliado» (Homilia na missa para o início do ministério petrino, 18 de maio). Com efeito, nas suas intervenções até agora, o Santo Padre retomou e desenvolveu o que já estava contido no seu lema agostiniano (in Illo uno unum), convidando-nos incessantemente a estarmos unidos, enquanto Igreja de Cristo, para sermos «sinal de paz para todos, na sociedade e no mundo» (Jubileu das famílias, 1 de junho).
Neste apelo à unidade e à paz, reconhecemos uma profunda continuidade com o Papa Francisco, que no decorrer da audiência concedida a Comunhão e Libertação em 2022 nos convidou precisamente a acompanhá-lo na «profecia pela paz», e posteriormente nos chamou a atenção várias vezes para a importância da unidade. Fica cada vez mais claro que este convite tem uma relevância crucial no momento histórico atual, no qual a unidade da Igreja constitui, precisamente, uma profecia de paz enquanto sinal da presença carnal de Deus no mundo líquido de hoje, antecipação da realização da glória de Cristo.
Por esta razão, sentimo-nos parte integrante de uma Igreja chamada a enfrentar desafios novos e complexos, que hoje nos convida a continuarmos a dedicar-nos à educação dos jovens, à qual don Giussani dedicou toda a sua existência, inclusive com formas novas. Em particular, creio ser necessário identificar percursos educativos capazes de interagir inteligentemente com as novas tecnologias, de modo a que elas possam favorecer o desenvolvimento da dimensão relacional da pessoa e não, pelo contrário, acentuar a redução individualista que está em ato hoje. Parece-me uma condição imprescindível para a edificação de uma sociedade realmente livre.
Esperamos poder ouvir as palavras que o Papa Leão XIV nos quiser dirigir para podermos segui-lo e caminhar com ele. Desde já, temos certeza de que a sua eleição constitui um dom para nós, cristãos, mas também para o resto do mundo, que espera – muitas vezes sem o saber – uma certeza, um anúncio de esperança. O nosso desejo é de que este Jubileu, dedicado precisamente à esperança, seja uma ocasião para todos os que, dentro e fora da Igreja, se puserem à escuta.
Extamente sobre isto, permito-me uma última referência. Falar de esperança hoje parece uma ilusão ingénua, e seria assim se ela dependesse das nossas capacidades ou do nosso desempenho. Não por acaso, don Giussani concluía a sua intervenção de 1998 com estas palavras: «A existência exprime-se, como último ideal, na mendicância. O verdadeiro protagonista da história é o mendicante: Cristo mendicante do coração do homem e o coração do homem mendicante de Cristo». Só a certeza de um destino bom pode fundamentar a esperança. Portanto, o dom que desejamos pedir, em primeiro lugar para nós mesmos, é uma “pobreza de espírito”, e é esta a postura com que, juntamente com todos os outros movimentos, queremos participar na Vigília de Pentecostes com o Santo Padre.
Do jornal italiano Avvenire, 7 de junho de 2025