(©Ansa/Epa/Christophe Petit Tesson)

A guerra não é o único cenário

Há alguns dias, o editor do Corriere della Sera, Antonio Polito, comentou a intervenção de Davide Prosperi no La Repubblica de 16 de março. Eis a resposta do Presidente da Fraternidade de CL (Corriere della Sera, 29.03.2025)
Davide Prosperi

Caro diretor, num editorial no CorriereAs nossas velhas tentações», 28 de março) Antonio Polito cria uma polémica sobre um artigo meu, publicado uns dias antes, sobre o tema da defesa comum europeia. Espanta-me que um observador tão atento do mundo como Polito reprove que um movimento católico siga os ensinamentos do Papa. Mas agradeço-lhe, porque me dá a oportunidade de voltar a questões complexas sobre as quais, enquanto cristãos empenhados em colaborar no bem comum, estamos também a discutir entre nós.

Vou tentar esclarecer um ponto que me parece ser mero realismo: a criação de um mecanismo que facilite o rearmamento de Estados individuais (às custas, por exemplo, de um sistema de bem-estar social em evidente dificuldade) é contraditória com a perspetiva degasperiana de uma defesa europeia comum, pois corre o risco de tornar a Europa ainda menos coesa e de criar novos cenários de guerra. As decisões tomadas recentemente por alguns países parecem indicar que será exatamente essa a direção.

Por essas razões, reitero a minha convicção de que o programa de rearmamento europeu atualmente em discussão, da forma como nos foi apresentado até agora, não parece ser uma escolha adequada e que o compromisso com a paz, que é a única coisa que importa, passa por outros caminhos. Não se trata, de forma alguma, de sermos «neutros», ou de não nos colocarmos o problema de como garantir a segurança dos nossos países, mas de ver como é que a UE de hoje pode fazer com que sua voz seja mais ouvida nas atividades diplomáticas em curso e também nos órgãos supranacionais, como a NATO, com os quais já está envolvida.

A Europa é fruto de uma pluralidade de contributos que a tornaram, e ainda a tornam, vital do ponto de vista económico, social e cultural, e também por essa razão potencialmente capaz de resolver disputas complicadas sem considerar a guerra como o único cenário possível (um cenário para o qual, de qualquer forma, estaríamos absolutamente despreparados, independentemente de qualquer rearmamento). Penso nas palavras usadas pelo Papa Francisco na sua recente carta ao Corriere: «Há uma grande necessidade de reflexão, de calma, de uma noção da complexidade. Enquanto a guerra apenas devasta as comunidades e o meio ambiente, sem oferecer soluções para os conflitos, a diplomacia e as organizações internacionais precisam de nova vida e credibilidade».

Estamos verdadeiramente certos de que as centenas de bilhões de euros que a Alemanha pretende destinar à sua defesa são um contributo nesta direção? Talvez Polito considere a posição do Papa pouco realista. Nós, pelo contrário, acreditamos que se a paz realmente importa, esse é o caminho a seguir.
(Davide Prosperi, Presidente da Fraternidade de Comunhão e Libertação)

A resposta de Antonio Polito
Agradeço ao Davide Prosperi pela sua amável resposta e respondo à sua pergunta. Considero a posição do Papa Francisco contra a guerra não apenas obviamente partilhável, mas também realista. Logo a seguir à invasão russa da Ucrânia, no regresso da sua viagem ao Cazaquistão, Francisco disse: «Defender-se não é apenas lícito, mas também uma expressão de amor à pátria. Aquele que não se defende, aquele que não defende algo, não o ama, mas aquele que defende ama».
É exatamente assim. Quem ama a paz sabe defendê-la.
(Antonio Polito)