Marcos Pou

«Uma humanidade tão humana que só pode ser Deus»

No dia 1 de março, mais de trezentas pessoas juntaram-se no seminário de Barcelona para celebrar o décimo aniversário da morte de Marcos Pou, com a missa presidida pelo arcebispo da cidade catalã, Juan José Omella.

Passaram dez anos desde aquele dia 22 fevereiro de 2015 que nenhum de nós alguma vez esquecerá. A notícia da morte do Marcos devido a um acidente de mota, poucas horas depois de termos estado juntos com alguns amigos para, segundo uma proposta feita pelo Marcos, comentar o livro dos Atos dos Apóstolos, impactou-nos a todos. Foi um fim de semana muito duro, cheio de confusão, de lágrimas, de incredulidade, mas também de recolhimento e de comunhão, no qual muitos de nós puderam experimentar a oração – o diálogo com o Mistério – de um modo novo, totalmente desarmado e sincero.

Sobre isto já se escreveu muito no decurso destes anos e nunca deixámos de ver a imensa “superabundância de vida”, segundo as palavras de José Miguel García, que a morte de Marcos trouxe e que cresceu como uma onda de choque. Este facto recorda-nos claramente o excerto do Evangelho de João que diz: «Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.» (Jo 12, 24).

É prova disto o facto que, dez anos depois, mais de trezentas pessoas se tenham reunido para recordar e celebrar a vida do Marcos. No dia 1 de março encontraram-se em Barcelona familiares e amigos provenientes de Barcelona, Madrid, Itália, Portugal e de outros países. Fiquei muito surpreendido por encontrar a Francesca, que veio de propósito de Milão com o marido e a filha. Francesca era uma estudante em Eramus quando o Marcos era responsável dos universitários de Comunhão e Libertação.

José Miguel García introduziu o gesto sublinhando que «a esperança nasce de um facto que já está presente: a incarnação do Filho de Deus no meio de nós, algo que nós damos por adquirido, mas que é de um outro mundo. Assim é a vida do Marcos, aquilo que aconteceu através do seu sim». O evento começou com a leitura de um texto inédito escrito pelo próprio Marcos, fornecido pela Associação dos Amigos de Marcos Pou. Como no livro A Minha História, foi como entrar de novo no coração deste jovem e apaixonado amigo, a quem o encontro com Jesus Cristo tinha dado uma direção nova e definitiva à sua vida. Nesses apontamentos, o Marcos comenta as suas impressões numa viagem à Terra Santa, a partir de «uma inadequação, uma falta de méritos» que reconhecia em si mesmo para participar nesta viagem. «Estou consciente da preferência que é poder fazer esta viagem, mas também de que não é exclusivamente para mim: há Outro que me está a mimar, para poder (comigo) olhar para outros. Esta é a minha responsabilidade: viver d’Ele para O comunicar.»

Durante a missa, o Evangelho de Lucas recordou-nos mais uma vez que «a boca fala do que transborda do coração». Na homilia, o cardeal Juan José Omella, arcebispo de Barcelona, comparou a vida dos santos às estrelas: «Eu venho de uma pequena cidade, onde de noite é possível contemplar muito bem as estrelas. Do mesmo modo, na Igreja contemplamos os santos. Há aqueles que conhecemos, outros que não conhecemos. Alguns têm luz própria, mas todos resplandecem com a luz do único Sol, que é Cristo. Algumas estrelas são simples, “os santos da porta ao lado”, de que fala o Papa Francisco. Todos somos chamados à santidade».

Omella enumerou sete chaves para a santidade, que podem ser identificadas na vida do Marcos: o encontro com Cristo, o diálogo com Ele, a humildade (meter-se nas suas mãos), a confiança em Deus, a caridade, a direção espiritual e o fruto de tudo isto, a alegria. Destacou de forma particular a importância de abraçar a cruz com amor, recordando as palavras de São Francisco de Assis sobre a alegria perfeita: aceitar com amor aquilo que Deus nos dá. «Um santo triste é um triste santo», observou.

Concluo retomando as palavras que o Marcos disse depois de ter visitado a igreja de Dominus Flevit no Monte das Oliveiras durante a sua viagem à Terra Santa: «o que caracteriza Cristo é esta paixão, paixão e serviço total, pelo destino do homem concreto, da cidade concreta, de todos. Este é Cristo, e não há nada maior na vida do que conhecê-lo, e senti-lo vivo e palpitante em mim mesmo. E consciente de que não chega a todos, de que são muitos os que se aproximam, “inventa” a Eucaristia, faz-se acessível e próximo. Tudo isto são rasgos de uma humanidade tão humana que só pode ser Deus».

Josepmaria, Barcelona