Don Giussani nel 1984 (©Fraternità CL)

«Giussani sabia falar ao homem»

A lembrança do fundador de CL vinte anos após a morte, numa entrevista a Davide Prosperi publicada no Milano Sette, o suplemento semanal de Avvenire
Annamaria Braccini

Vinte anos após a morte de monsenhor Luigi Giussani, ocorrida em Milão no dia 22 de fevereiro de 2005, qual é o seu maior legado? Perguntámos a Davide Prosperi, presidente da Fraternidade de Comunhão e Libertação e reconfirmado pelo Papa Francisco, precisamente nestes dias, para um segundo mandato quinquenal. «Don Giussani afirmou sempre que nunca tivera a intenção de “fundar” nada de novo, mas que o seu único interesse era viver e comunicar “a paixão pelo facto cristão como tal nos seus elementos originais, e só”».

Um carisma que continua?
«O carisma que lhe foi dado, e que a Igreja reconheceu com autoridade, foi sobretudo o de redescobrir o encontro com Cristo, presente dentro da Igreja, como resposta às perguntas estruturais do coração do homem, e de partilhá-lo com todos aqueles com quem entrava em contato. Este é o seu legado: o carisma que o Senhor concedeu a toda a Igreja através dele. O movimento Comunhão e Libertação é chamado a guardar e valorizar este carisma, como nos foi pedido pelo Papa Francisco».

O então cardeal Ratzinger, na Catedral para as exéquias do Servo de Deus, disse estas palavras: «Desde o início, monsenhor Giussani fora tocado, aliás, ferido, pelo desejo de beleza» e, não se contentando «com uma beleza qualquer», tinha «encontrado Cristo», percebendo assim que «o cristianismo é um encontro». Como é que este encontro continua a ser uma mensagem atrativa para as novas gerações?
«O prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, o cardeal Farrell, numa intervenção publicada no L’Osservatore Romano e na revista de CL Tracce, por ocasião do aniversário, observou que Giussani “soube falar ao homem”, lidando com as exigências de beleza, verdade e felicidade que habitam no coração de todos. Precisamente por isso, tantos jovens, ouvindo Giussani, tomaram consciência de si e descobriram Cristo como resposta a tais exigências. Encontrando tantas comunidades em Itália e no mundo, vejo que a mesma dinâmica também acontece hoje, onde quer que haja um adulto marcado pelo encontro com Cristo dentro da Igreja».

Na sua saudação de agradecimento pela celebração do XX aniversário da morte de Giussani, o senhor recordou que não se pode «seguir Cristo e perceber Cristo e sermos fiéis a Cristo senão em conjunto», como dizia o fundador. Qual é, na sua opinião, o fruto mais significativo deste caminhar unidos na Igreja ambrosiana, da qual Giussani era filho e sacerdote?
«Don Giussani sempre considerou CL como um “fruto histórico” da tradição ambrosiana. O cardeal Farrell, na sua intervenção, observa que Giussani era um “padre de batina”, que nunca se envergonhou de pertencer à Igreja e de propor Cristo a quem quer que encontrasse, desde os jovens do Liceu Berchet até aos monges budistas que o convidaram para o Japão. Nós também somos hoje chamados a ter consciência de que só no abraço da Igreja é que podemos fazer experiência pessoal do amor e da paz que Jesus introduziu. E nós, de CL, partilhamos com todos os nossos irmãos cristãos a responsabilidade deste testemunho no mundo».

O senhor conheceu “don Gius”. Tem alguma recordação pessoal?

«Quando me confiou a responsabilidade pelas comunidades do Movimento na Europa, Giussani recomendou-me que pedisse sempre a Nossa Senhora para me conceder um coração humilde. Hoje, mais ainda, tento seguir aquela recomendação. Não é por acaso que, daqui a poucos, irei em peregrinação a Lourdes com alguns amigos».


Da Milano Sette – Avvenire, 16 de fevereiro de 2025