Meeting Lisboa 2024. O que ficou por dizer?
Terminou ontem, dia 24 de novembro, a 9.ª edição do Meeting Lisboa. Algumas notas do último diaChegados ao fim do Meeting Lisboa e diante da tarefa de escrever um resumo destas últimas 24 horas do evento, decidimos dar, uma última vez, a voz a alguns dos que participaram neste encontro. De facto, o que ficou por dizer são, sobretudo, os frutos do trabalho realizado.
Comecemos pela Margarida. Parte do grupo que preparou o concerto de cantos de intervenção (que dificilmente poderia encontrar melhor palco que a Cantina Velha da Universidade de Lisboa, lugar da revolta estudantil de 1962), a Margarida é, por influência do pai, uma admiradora deste género musical desde tenra idade: «quando me converti ao catolicismo, comecei a aperceber-me que muitas das letras destas canções ou mostravam uma grande falta de Fé, ou propunham uma falsa solução para os problemas do mundo.» Contudo, uma leitura atenta das mesmas fê-la descobrir que «as perguntas que os compositores destes cantos de intervenção fazem são as mesmas que eu tenho. “Porquê o mal? Porquê a miséria? Porquê a injustiça? Qual o sentido disto tudo?”» Para a Margarida, eles «queriam, de certa forma, que a vida fosse mais ideal, e isso é o que eu quero também!» E termina: «às vezes os cantos de intervenção são um bocado olhados de lado, a medir aquilo que eles têm de errado, mas neste concerto entrevimos em que medida é que isto parte de um coração como o meu».
Certamente que a ninguém passaram despercebidas as exposições, as conferências, as bancas e os concertos. Porém, o que tocou o José foi o serviço de limpeza, sobretudo, por ser um trabalho escondido, mas, nem por isso, menos necessário. Reparou, em particular, num senhor «casado, com vários filhos e até já netos, que estava na casa de banho a limpar tudo com primor e uma grande liberdade, numa total entrega àquilo que estava a fazer». O que impressionou o José, bem se entenda, não foi um homem a fazer limpezas, mas sim «ver as pessoas a trabalhar com esta consciência, que também me ajuda a olhar para o trabalho como entrega total e a compreender o valor de tudo o que fazemos».
O Ricardo teve uma experiência idêntica. Com o Pré-Meeting, na sexta-feira, deitou-se pelas 4 horas da manhã. Sábado, levantou-se muito cedo. No entanto, «quando acordei apercebi-me disto: “Eu estou tão contente! Mas porquê?”» Certamente que outros voluntários partilham da mesma pergunta. Recordo-me, em particular, de um que não só saiu a altas horas da madrugada do Pré-Meeting, como ficou sem um pneu no caminho. Ele contou-me isto a sorrir, depois de eu me queixar de ter dormido pouco. Diz o Ricardo: «A felicidade para que somos feitos, nós experimentamo-la no Meeting para a desejar para o nosso dia-a-dia. Amanhã, vou acordar um bocadinho mais feliz, porque sei que esta felicidade existe e posso ir para o meu trabalho a querer que ela aconteça naquele lugar.» Conclui, então, que «o Meeting é uma escola do verdadeiro significado do trabalho: que a obra que estou a construir me dê alegria».
De entre as coisas que impressionaram o Diogo neste Meeting, a primeira foi o evento ter-se realizado numa cantina. Disto só se apercebeu nas desmontagens: «Durante o Meeting não parecia que estava ali, não sentia que estava numa cantina». Tal não se devia ao facto de a ementa incluir bacalhau com coentros e mousse de lima, mas sim, explica o Diogo, à «seriedade com que o Meeting foi preparado». Não se pense que com seriedade falamos de pessoas trombudas. Falamos sim de um compromisso sério com as coisas. Foi isto que tornou possível transformar uma cantina num espaço novo e, depois, devolvê-lo ao seu estado original.
Segunda-feira, a Cantina Velha volta a servir almoços, das 12:00 às 15:00, neste caso, bife de novilho em molho de cenoura com arroz branco e tofu à Brás. Ao leitor que nos acompanhou, seguindo o exemplo dos entrevistados, resta verificar a pertinência do que viveu nestes dias. Na impossibilidade de ser aqui registado, que esse juízo seja vivido.