A confiança no outro
O que significa amar? È a pergunta mais urgente que os factos deste tempo provocam, sobretudo nos mais jovens. E que põe em causa cada adulto. De "La Repubblica" de 28.11.23, Pag. 32, a carta de Matteo Severgnini, responsável dos liceus de CLEstimado Diretor,
perante os recentes eventos noticiados, que interpelam a humanidade de cada um de nós, impõe-se uma pergunta: pode o homem bastar-se a si mesmo? Ou, como diria Leopardi, “e eu, que sou?”, e portanto “que significa amar?” A urgência de uma resposta diz respeito a todos, à família e à escola, principalmente, mas também o mundo da política e do trabalho, da cultura, do desporto e da comunicação, pois é na confiança na relação humana que se baseia a sociedade inteira.
A repetição de tragédias como a de Giulia Cecchettin mobiliza qualquer adulto a recuperar a consciência do propósito e de um entusiasmo renovado na grave tarefa da educação: oferecer às novas gerações a hipótese de uma proposta unitária de sentido que elas mesmas, sustentadas por uma companhia estável, possam verificar em primeira pessoa, aventurando-se na existência humana e tornando-se protagonistas dela.
Por esta razão, sentimo-nos chamados a oferecer, numa sociedade plural, a nossa contribuição com uma proposta de vida que leve a reconhecer o mistério profundo, inerente a cada pessoa.
O poeta Rilke escancara-nos para um horizonte de significado fecundo e promissor quando escreve: “Este é o paradoxo entre o homem e a mulher: duas necessidades infinitas de ser amado encontram-se com duas frágeis e limitadas capacidades de amar. E só no horizonte de um amor maior é que não se consomem na pretensão nem se resignam, mas caminham juntos para uma plenitude da qual o outro é sinal”. A pessoa amada é “sinal”, não pode responder exaustivamente ao desejo infinito de ser amado presente no coração humano.
O outro é sinal da sua e da minha dependência original de um Mistério maior que nós, como nos ensinou don Giussani quando, por exemplo, contou que fizera uma estranha pergunta a dois jovens que ele encontrara quando se abraçavam: “O que isso têm a ver com as estrelas?”, despertando o nexo entre o particular e o todo, trazendo de volta a proporção adequada entre aquele abraço e um destino maior.
“Reconhecer a profundidade onde os demais enxergam apenas a aparência inanimada e mecânica das coisas” (Pasolini), reconhecer o outro como sinal, realidade irredutível, não em minha posse, impele-me a “venerá-lo”, em vez de consumi-lo de forma desgastante e até mesmo letal.
Esse “amor maior […] plenitude da qual o outro é sinal” revelou-se na história na face de Jesus, do qual nasceu o povo cristão que incansavelmente tenta viver e roga que vivamos amando o outro com gratuidade; a iniciativa do Cardeal Pizzaballa, que se ofereceu como refém em troca da libertação de outras pessoas sequestradas, e a mobilização de tantas pessoas para a Coleta de Alimentos são testemunhos disto. No abraço desse “amor maior” é possível chegar até a dar a vida pelo outro, em vez de arrancá-la.