“Deus quer para nós o momento presente”
O que o Despertar do humano tem suscitado entre nós...Esta frase de Dorothy Day acompanhou a celebração dos nossos 25 anos de casados em 2017. Veio-me novamente à memória ao acabar de ler o texto de Carron “O Despertar do Humano”, porque o fim do texto é um eterno início: a liberdade do homem é sempre nova e deve tomar repetidamente as suas decisões. Para cada um, para cada momento, há sempre um novo começo. Julgar, decidir e ser mudado. Sem este hábito, qualquer experiência, mesmo exigente, dolorosa e dramática, fica perdida.
Carron leva-nos da “vingança da realidade” até à “descoberta de quem somos e porque vale a pena viver”, numa viagem que é um gosto fazer.
A realidade “entrou sem pedir licença” e despertou em nós as perguntas essenciais antes afogadas na rotina, resgatou os factos das interpretações, a verdade do engano impune. Revelou a fragilidade, a dura solidão de cada um consigo próprio, a perda das raízes, das memórias e dos exemplos vivos de quem serenamente já viveu muito e ultrapassou coisas piores. Nos mais sérios, gerou a exigência de alguma coisa que, vinda de fora de nós, se revele capaz de vencer o medo de existir.
A estrada a seguir é a intensidade diária do confronto com a realidade, na companhia que não “me protege do impacto da realidade” mas que “me ajuda a viver qualquer circunstância”. A mão de um pai, a encarnação do Verbo. Sendo uma pessoa, uma Presença encontrável, chama-nos, desafia a nossa liberdade mas promete que nem a alegria nem o sofrimento se vivem na solidão.
Dá trabalho mas é o preço da liberdade.