Palafitas no Rio Amazonas (foto: Cesare Simioni)

Tendas AVSI / 3. Amazónia, uma escola para não se irem embora

Fundada pelos padres do Pime em 1974, a Rainha dos Apóstolos de Manaus ensina os jovens índios a cultivar a terra de maneira sustentável. Para não abandonarem a floresta e se tornarem pequenos empresários
Filomena Armentano

Em Manaus há uma escola especial. Aponta aos jovens brasileiros um caminho possível para viverem nas suas comunidades perto do Rio Amazonas. Que caminho? Cultivar a terra de maneira sustentável, para não terem de mudar para uma cidade grande à procura de riqueza, acabando por viver na pobreza de uma favela, como costuma acontecer. Entre os projetos apoiados este ano pelas Tendas da Avsi, está a escola agrícola Rainha dos Apóstolos, nascida em 1974 na periferia da capital do Amazonas (dois milhões de habitantes) por iniciativa dos missionários do Pime, com o objetivo de oferecer aos jovens das aldeias da floresta amazónica uma formação profissional no campo da agricultura e da zootecnia, valorizando as especificidades do território e o respeito pelo ambiente.

A escola agrícola está inserida num complexo que compreende todos os ciclos: pré-escolar, 1º a 3º ciclo do ensino básico e profissionalizante. Em 2018, a creche e o pré-escolar receberam mais de 450 alunos, enquanto os 3 ciclos do ensino básico e a escola agrícola receberam 119. No complexo escolar trabalham mais de 40 pessoas, entre professores, técnicos e pessoal auxiliar.



«A escola recebe os filhos das comunidades indígenas», explicou o diretor da Avsi Brasil, Fabrizio Pellicelli: «Trata-se de centenas de jovens que para um ciclo completo de estudos se mudam para a escola em Manaus a fim de receber a formação escolar e posteriormente uma formação específica em atividades agrícolas. O objetivo é que, no final do ciclo de estudos, esses jovens possam voltar para casa e dar vida a produções agrícolas para o sustento das comunidades, seguindo técnicas sustentáveis no plano do cuidado do ambiente amazónico», tema este de grande atualidade, até porque foi amplamente discutido no último Sínodo da Amazónia.

«A experiência da escola agrícola demonstra que existe, também aqui, uma possibilidade de desenvolvimento sustentável: os índios podem ficar na aldeia, trabalhando e mantendo as suas famílias. Esta é uma escola que permite aos jovens continuar as suas tradições locais, mas também receber uma educação de qualidade e tomar consciência do seu próprio valor», continuou Fabrizio, que explica: «A formação técnica chega aos jovens dentro de um processo educacional que estimula neles a coragem necessária para se tornarem pequenos empresários: se não tivessem encontrado esta escola e não tivessem sido acompanhados pelos seus professores, teriam feito um percurso diferente que provavelmente os levaria para longe daqui».



A escola agrícola responde a exigências reais. «Tudo nasceu de uma intuição dos missionários, que, já no início dos anos setenta, não se puseram a fazer grandes análises, mas deram uma resposta concreta a uma exigência concreta», disse ainda Fabrizio: «E funcionou, como demonstra o facto de já estarmos na segunda geração com alguns estudantes: os seus pais frequentaram a escola, voltaram para as aldeias, criaram uma empresa, formaram uma família e agora mandaram os seus filhos para estudar em Manaus, como eles mesmos tinham feito».

Com os fundos recolhidos durante a campanha das Tendas deste ano, serão financiadas a formação dos professores em novas técnicas de cultivo orgânico e sustentável, a produção agrícola para garantir a alimentação dos jovens e a sobrevivência económica da escola e, por fim, o desenvolvimento dos canais de comunicação e de instrumentos de gestão para desenvolver um sistema de avaliação do impacto sócioambiental.

A escola agrícola de Manaus é só um dos sinais da presença da Avsi no Brasil, que também tem vindo a fazer um grande trabalho na gestão da emergência ligada aos refugiados venezuelanos: «Um primeiro passo é gerir os campos de acolhimento primário na fronteira entre os dois países, com o objetivo final de transferir os imigrantes para as cidades brasileiras, favorecendo a inserção no tecido social e económico com acordos com as empresas a fim de lhes garantir um emprego», contou o responsável da ONG. Neste sentido, no ano passado, sempre graças à campanha das Tendas, financiou-se um projeto piloto que funcionou e agora se vai tornar estrutural. «A campanha do ano passado foi útil para experimentar o projeto e envolver grandes empresas na criação de vagas de trabalho para imigrantes. Graças a esse primeiro passo, nos próximos dois anos seremos capazes de “adotar” 500 famílias venezuelanas».