Na raiz da alegria, um pedido profundo e humilde

Como foram simples e bonitos estes dois dias em Fátima com o Papa Francisco, para os 100 anos das Aparições e para a canonização dos Pastorinhos! Um olhar de quem foi...
Margarida Pacheco de Amorim

Começou logo na quinta-feira (dia 11), com pessoas a chegar a Fátima vindas de todos os lados de Portugal e do estrangeiro. Com sacos e tendas, e muitas a pé, foram tomando o seu lugar em Fátima e no Santuário (muitas para passar também a noite).
O Santuário encheu-se de pessoas e de bandeiras de vários países. O tempo de espera do Papa e do que ia acontecer era perpassado por uma franca alegria. Na raiz dessa alegria ecoava um pedido profundo e humilde. Dominava a imagem de Nossa Senhora na Capelinha das Aparições e a imagem dos Pastorinhos exposta, em grande plano, na fachada da Basílica.

O Papa chegou e dirigiu-se imediatamente à Capelinha das Aparições para cumprimentar Nossa Senhora. O silêncio atravessou todo o Santuário. E todos os momentos iriam ser vividos assim, cheios de respeito. O Papa retirou-se e regressou depois à noite, para o terço, que foi rezado em várias línguas. Depois do terço, voltou a retirar-se para descansar.
Seguiu-se a procissão das velas. Quando Nossa Senhora passava, entre flores lançadas para o andor, os rostos enchiam-se de maravilha e de gratidão.
Depois seguiu-se a missa onde muitas pessoas estiveram ainda presentes.

No dia seguinte, às 7 horas, entre as pessoas que chegavam e as que lá pernoitaram, o Santuário estava cheio. Às 9 horas já não se podia transitar. Rezámos o terço e Nossa Senhora voltou a passar. O Papa chegou entretanto, visitou o túmulo dos Pastorinhos, e entrou no Santuário.
Começou a missa da canonização dos Pastorinhos. A síntese das suas vidas, que deu início à missa, trouxe, para primeiro plano, a fé dos Pastorinhos, a sua afeição a Nossa Senhora (à «Linda Senhora vestida de luz»), o seu amor profundo a Jesus e a sua compaixão pelo mundo.

A inscrição de Jacinta e Francisco no livro dos santos foi recebida com imensa alegria e, ao mesmo tempo, com um sentido de mistério que encheu os corações do desejo de descobrir e amar o que os Pastorinhos descobriram e amaram e, assim, percorrer a sua estrada.
A homilia do Papa foi tão simples que poderia quase passar despercebida (pelo menos a mim). Retomando-a, noto nela um grito de esperança e de confiança, uma chamada de atenção cheia de consequências: «Queridos peregrinos, temos Mãe, Temos Mãe! Agarrados a Ela como filhos, vivamos na esperança que assenta em Jesus (…)».

A imagem da Luz atravessou, também, toda a homilia. Estes são alguns excertos: «Apareceu no Céu (…) uma mulher revestida de sol»; «E no dizer de Lúcia, os três privilegiados ficavam dentro da luz que irradiava de Nossa Senhora. Envolvia-os no manto de Luz que Deus lhes dera»; «(…) Fátima é sobretudo este manto de Luz que nos cobre (…)»; «Como exemplo, temos diante dos olhos São Francisco Marto e Santa Jacinta, a quem a Virgem Maria introduziu no mar imenso da Luz de Deus e aí os levou a adorá-Lo.»; «Tinham visto a Mãe do Céu. Pela esteira que seguiam os seus olhos, se alongou o olhar de muitos (…)».
Fica-nos, por tarefa, descobrir a força destas palavras e como o caminho que os Pastorinhos percorreram tem a força de iluminar a vida.

Já na bênção dos doentes, o Papa abriu uma estrada de significado consoladora: «Queridos doentes, vivei a vossa vida como um dom e dizei a Nossa Senhora, como os Pastorinhos, que vos quereis oferecer a Deus de todo o coração. Não vos considereis apenas recetores de solidariedade caritativa, mas senti-vos inseridos de pleno título na vida e na missão da Igreja. A vossa presença silenciosa mas mais eloquente do que muitas palavras, a vossa oração, a oferta diária dos vossos sofrimentos em união com os de Jesus crucificado pela salvação do mundo, a aceitação paciente a até feliz da vossa condição são um recurso espiritual, um património para cada comunidade cristã. Não tenhais vergonha de ser um tesouro precioso da Igreja.»

E, por fim, o Adeus a Nossa Senhora com a multidão a acenar-Lhe com lenços brancos enquanto voltava para a Capelinha. O Papa, também com um lenço branco na mão, despediu-se de Nossa Senhora de Fátima comovido.
Depois, despediu-se do povo no Santuário, e, antes da partida, atravessou as ruas de Fátima para uma última despedida.
O Papa partiu levando Nossa Senhora, os Pastorinhos e todos nós no coração, e o mesmo podemos nós também dizer: trazemos o Papa Francisco e tudo o que aconteceu nestes dias em Fátima no coração.