Cuidar da casa comum

Um olhar de alguns amigos sobre o Congresso das Associações de Profissionais Católicos, para ajudar a perceber o contributo dos cristãos ao bem pessoal e comum.
Luis Mendonça

No passado dia 5 de Novembro, cerca de três centenas de membros das Associações de Profissionais Católicos da Diocese de Lisboa reuniram-se na Universidade Católica para falarem sobre como “Cuidar da Casa Comum”. Vem a propósito lembrar que o Papa Francisco estabeleceu em setembro passado o cuidar da casa comum como a 15ª obra de misericórdia.

Tendo como ponto de partida a Encíclica do Papa Francisco “Laudato Si” e respondendo ao apelo do Cardeal Patriarca de Lisboa D. Manuel Clemente de nos reunirmos juntos em congresso, as Associações Profissionais Católicas promoveram um dia de trabalhos onde cada Associação desenvolvia uma reflexão sobre a incidência dos desafios da encíclica na sua actividade profissional particular e do seu contributo científico, técnico e profissional para o bem comum, em concreto para a ecologia integral, isto é, para esta casa comum de natureza, seres humanos e seres viventes criados por Deus.
A leitura da encíclica, enquanto preparávamos o congresso, levantou uma questão que serviu igualmente de pano de fundo à reflexão de cada um para o desenvolvimento dos trabalhos: Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer?

O congresso, propriamente dito, começou com uma conferência de abertura proferida pelo investigador Prof. Henrrique Leitão e continuou, ao longo do dia, com a colaboração de cada Associação Profissional num conjunto de painéis sobre “a vida”, “o trabalho” e “a relação”.

Logo a abrir o primeiro painel “A vida” a intervenção da Dra Joana Tinoco de Faria da Associação dos Psicólogos Católicos, começava com uma série de perguntas sobre “a vida, que valor, que sentido”, algumas destas perguntas lançadas pelo próprio Papa Francisco na encíclica: “com que finalidade passamos por este mundo, para que vimos a esta vida, para que trabalhamos e lutamos, que necssidade tem de nós esta terra”. Com estas perguntas era lançado aos participantes do congresso o desafio de parar para pensar. O Dr Nuno Santos, da Associação dos Farmacêuticos Católicos, interveio para nos dar conta de alguns desafios que a inovação e o desenvolvimento tecnológico na área da saúde e da medicina trazem ao ser humano. Na sua intervenção ficou patente que algumas das coisas que nos parecem ser ficção científica, não só já estão disponíveis como se não houver ética, um sentido moral, a procura do bem comum e o respeito pela dignidade humana, elas podem ser usadas para o mal e aumentarem as desigualdades entre as pessoas. O painel continuou com a intervenção da Enfermeira Andreia Silva da Costa, da Associação Católica de Enfermeiros e Profissionais de Saúde, que saudou a iniciativa do congresso que se insere na “procura de um ideal pelos valores humanos, ideal de partilha e de construção daquilo que somos não só como pessoas, mas de pessoas que colocam ao serviço dos outros os valores da igreja”. E, por último, tivemos a intervenção da Dra Alexandra Fernandes, da Associação dos Médicos Católicos Portugueses, que partilhou um conjunto de experiências pessoais que tem como médica de família e que o facto de olhar os doentes com o olhar de Jesus a torna diferente e a faz fazer diferente, porque, como disse, “em última análise, as pessoas são curadas pelo amor”.

O segundo painel, dedicado ao trabalho, trouxe-nos o relato de uma experiência nascida da preparação deste congresso e que revela os bons frutos que a comunhão e o encontro entre associações tornam possíveis. De facto, A Associação Cristã de Empresários e Gestores de Empresas, a Acção Católica Rural, a Juventude Operária Católica e a Liga Operária Católica trouxeram ao congresso um documento conjunto intitulado “Ser Cristão no trabalho construir o reino na vida económica! Um desafio para cada um!”. Partindo da encíclica, estas associações aceitaram este desafio “olhando a realidade, julgando-a e apontanto possíveis caminhos para o futuro com a certeza, como o Papa refere na encíclica, de que todos somos responsáveis por todos, estamos interligados e precisamos de procurar caminhos e percorrê-los em conjunto”. A experiência conjunta que estas associações tão diferentes entre si partilharam são já a prova de que juntos podemos trazer uma nova esperança ao mundo, à realidade do trabalho e às relações entre pessoas com interesses aparentemente divergentes.

No painel sobre a relação, tivemos a participação das Associações dos Arquietctos Católicos, dos Juristas Católicos, dos Professores Católicos e dos Assistentes Sociais Católicos. O advogado João Taborda da Gama apresentou um conjunto de cinco provocações inspiradas pela Laudato Si que, como jurista, sentiu e que , disse, o fizeram sedimentar a ideia de que não basta haver boas normas para que se dê a transformação da sociedade e que um jurista, deve, na sua actividade ter igualmente em conta a ecologia integral proposta pelo Papa Francisco. A arquitecta Inês Vilhena da Cunha mostrou-nos como muitas vezes as nossas cidades estão construídas duficultando o estabelecimento de relações entre as pessoas, contra o indivíduo, as famílias e as comunidades e mostrou-nos que é possível e desejável que o urbanismo e a arquitectura possam promover o bem comum. A professora Maria Lúcia Garcia Marques mostrou-nos como a maior parte das relações existentes seja de pessoas seja de coisas tem uma relação trinitária à imagem da Santísima Trindade. A assistente social Elisabete Lopes Rodrigues partilhou connosco o quão importante é a relação que se estabelece entre a pessoa que precisa de ajuda e aquele que ajuda contando, partindo da sua experiência, como isso é um bem para ambos.

O encontro terminou com uma missa celebrada pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, depois de umas breves palavras conclusivas de D. Manuel Clemente, que acompanhou sempre todos os trabalhos do congresso do princípio ao fim. Uma das coisas mais comoventes e relevantes deste congresso foi todo o empenho e dedicação pessoal que D. Manuel Clemente dedicou, logo desde quando nos lançou o desafio no início do ano, revelando sempre uma certeza de que este trabalho constituiria um bem para as associações profissionais e os seus membros, para a Igreja de Lisboa e para a sociedade portuguesa. Um verdadeiro pai na fé em Jesus Cristo certo de que aquilo que os cristãos têm a dar ao mundo é e será sempre um contributo para o bem pessoal e comum.

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