Sophia em 1964, fotografia de Eduardo Gageiro

Contos Exemplares

Um olhar sobre os "Contos Exemplares" de Sophia de Mello Breyner
Luis Miguel Hernández

Mais do que uma narradora, Sophia de Mello Breyner é uma poetisa que escreveu contos. Ao mesmo tempo, as suas narrações são tão profundas que o «Prefácio» do Bispo António Ferreira Gomes chega a afirmar que nelas «há mais conteúdo cristão que nas de Cervantes ou Camões», e que a sua comunicabilidade essencial e interioridade riquíssima, feita de comunhão humana, superam os maiores: Hölderlin, Rilke, Shelley ou Pessoa.
Aquela que se pode aclamar como a maior poetisa portuguesa do século XX não pode, portanto, ser reduzida a simples narradora de contos infantis, etérea poetisa do absoluto ou revolucionária socialista anti-regime. A sua riqueza poética e simbólica faz com que os seus Contos sejam verdadeiramente «exemplares», no sentido que os clássicos davam a esta palavra: exemplos ou paradigmas de experiências humanas, concretas e universais.
Como na grande literatura clássica, estes Contos Exemplares procuram a nobreza de cada experiência e falam a partir de uma consciência existencialmente comprometida. Em muitos deles, a ironia chega a ser mordaz, na crítica a quem só olha para as aparências e se julga protegido no conforto das suas certezas. Mas, em última instância, prevalece uma simpatia humana, que reconhece o bem da realidade que existe e do outro que me ajuda a vê-la.

Contos Exemplares
Edição/reimpressão: 2014
Páginas: 164
Editor: Porto Editora
Existem várias edições disponíveis. A mais recente, da Assírio e Alvim (2015), tem um Prefácio de Federico Bertolazzi