BOYHOOD - MOMENTOS DE UMA VIDA

A experiência da força do presente, do real, à qual não é preciso acrescentar qualquer conteúdo ideológico para ser profundamente humana e religiosa.
P. Luis Miguel Hernández

A densidade da vida

Num tempo em que falar de experiência no cinema sugere espectáculo, utopia ou evasão, o realizador americano Richard Linklater surpreende com Boyhood: a experiência da força do presente, do real, à qual não é preciso acrescentar qualquer conteúdo ideológico para ser profundamente humana e religiosa.
«Mostrar a vida», as coisas pequenas do dia-a-dia, os eventos normais, sem contar muitas histórias, é a base deste filme avassalador de Linklater. Narra 12 anos na vida dum rapaz, Mason, filmados ao longo desse mesmo período de tempo, e permite ver nos seus 166 minutos, de facto, a densidade da vida.
Desde a primeira das 143 cenas, ficamos a simpatizar com o seu protagonista. Depois com a mãe dele e com o pai, que constituem um núcleo de relacionamentos que o introduzem na vida. Espanta a positividade com que estas personagens, em nada idealizadas, enfrentam as situações pelas quais qualquer criança e adolescente já passou, e qualquer pai ou mãe viu no crescimento dos mais novos.
O ritmo narrativo é mantido de forma espectacular pelas imprevisíveis mudanças de cena, pelo inexorável decorrer do tempo e do crescimento, mesmo visual, das personagens e de Mason em particular. Assim, nesta impressionante experiência cinematográfica, consegue-se dar todo o espaço à «normalidade», à beleza do quotidiano captado com uma máquina fotográfica, às músicas que descrevem estados de ânimo, às grandes perguntas sobre o sentido do nosso estarmos aqui, ao «presente que nos agarra».
Sem mistificações, é uma experiência do mais transcendente.