A Europa e a Felicidade

Se a felicidade não existe, então o que é a vida?
Inês Dias da Silva

Mariela Carloti chega da terra de Dante Alighieri com uma nova e antiga imagem da Europa que vem comprovar a existência da Felicidade.
Foi assim no lançamento da III edição do Meeting Lisboa, marcado para Novembro deste ano e que tem como tema a frase de Leopardi, 'Se a Felicidade não existe, então o que é a vida?

A Europa é terra escolhida
"O método de Deus para mudar o Mundo é a Escolha." Tendo sido assim desde Abraão até cada um dos nós. Mariella sublinhou como além de pessoas escolhidas também existiram tempos escolhidos e terras escolhidas. "A Europa é terra escolhida, o Tibete é terra prometida."
Como tem costume de explicar nas suas aulas de história, se um extra-terrestre chegasse hoje a este planeta, contaria quatro continentes, Asia, Africa, América e Oceania. Ficaria por isso muito surpreendido quando lhe disséssemos que contamos cinco.
Porque havia de ser considerado continente, aquilo que é apenas uma península da Ásia?
Porque é que a Europa é considerada um continente?
É grande? Não.
Tem uma grande população? Um terço da China…
Porque é então a Europa considerada um continente?
Porque neste continente nasceu uma concepção do homem que mudou a história do nosso planeta.
A grandeza da nossa civilização e o que a torna uma terra escolhida, não é a concepção de uma resposta, mas antes o surgimento de uma pergunta, da pergunta certa: Quem sou eu?
Esta é a pergunta que fez da Europa um continente.
O interesse do homem europeu foi só um. 'Conhece-te a ti mesmo' como disse Sócrates. Responder a esta pergunta é a única missão do homem; saber o que o realiza e o que o faz feliz.
Tudo o que o homem faz tende a ter dentro esta pergunta e sempre que não tenha, deixará o homem insatisfeito; qualquer tarefa ou trabalho que não tenha dentro esta pergunta, torna-se escravidão.

Uma pergunta que leva a uma viagem
A história da Europa pode-se sintetizar em 3 grandes civilizações: a grega, a romana e a cristã, que se traduziram na literatura em 3 viagens.
A Odisseia de Homero
A Eneida de Virgílio
A Divina Comedia, de Dante Alighieri

São 3 viagens, 3 heróis.

O mundo grego responde à pergunta com o herói Ulisses.

Quem é Ulisses? É um guerreiro que não vence só com os braços mas também com a inteligência. Vence graças à astúcia. Sai vitorioso de Tróia e a Odisseia é a felicidade do regresso a casa. A vida é um regresso a casa. O homem é feito para voltar vencedor.
Eneida. Esta é uma odisseia ao contrário. Eneias sai da mesma cidade que Ulisses, Tróia. Mas Eneias é o herói que perdeu. O mundo romano intui que o homem é feito para regressar perdedor. Eneia perde a terra e a mulher, para fundar Roma. O homem é perdedor, mas a vida é definida pela sua relação com o mistério. O homem não é feito para um destino de tranquilidade pessoal mas de dor como utilidade para o mundo.

A Divina Comédia é o poema da viagem do homem cristão.
Também ele responde à questão do que é o homem e do que o faz feliz.
Mas distingue-se das outras viagens, porque o herói, para Dante, é Dante.

O herói do homem cristão é ele próprio. Eu sou o protagonista. No cristianismo, o herói sou eu. Cristo morreu para que eu possa ser protagonista. A um dado momento da Divina Comédia, Dante encontra Ulisses e faz-lhe a pergunta que assinala a diferença do homem cristão.


O Homem é feito para o oceano

Dante diz a Ulisses: eu conheço o teu segredo. Eu sei que tu não morreste em Ítaca. E pergunto-te, onde foste morrer?

Porquê esta pergunta?
Dante aceita Ulisses, porque o homem cristão percebe que ter uma terra, uma mulher, um filho, um pai é belíssimo, mas sabe que tudo isto não basta. Por isso Dante sabe que Ulisses não morreu, mas voltou ao mar.

O Ulisses de Dante responde a Dante: quando voltei para Ítaca nem o amor da minha mulher, nem a doçura do meu filho nem a piedade do meu pai me bastaram para encher esta estranha forma do coração.

Depois desta conversa, Ulisses já não podia conter o ardor do oceano, e rumaram ao oceano.

O homem é feito para o oceano, para Deus.

A Divina Comédia acaba quando Ulisses vê no rosto de Deus, o rosto de Cristo, que é o seu rosto verdadeiro. O homem que toma consciência de si, que se dá conta de si como desejo de felicidade.

Do Desejo à Certeza

O homem precisa de estar certo que a felicidade é o seu destino.
Precisa de saber que a aparência, que as coisas na sua provisoriedade são um sinal da beleza eterna.
O seu desejo de amor será satisfeito!

Porque é que nos levantamos de manhã?
Porque trazemos filhos ao mundo?

Porque se pensarmos nos dias que passaram, nas coisas que correram mal, não nos levantaríamos de manhã. Mas mesmo assim levantamo-nos...

Porque como está patente na constituição americana, vemos como direitos fundamentais do homem, a vida, a liberdade e a procura da felicidade. A mesma procura da felicidade que apenas 10 anos depois da instituição desta constituição, foi omitida pela revolução francesa.

O coração do homem sabe que é feito para a felicidade. Mas o coração sozinho, não se pode sustentar. Por isso, Cristo veio ao mundo, para dar ao homem uma companhia para o sustentar nesta certeza de que a vida não é engano.

Mariella acabou a sua palestra tão bela quanto provocadora, com uma provocação ouvida a D. Giussani vários anos atrás e que ela própria define como estranha, mas que por alguma razão lhe tem estado bastante presente, nos tempos actuais.

D. Giussani começou um encontro entre amigos, dizendo:

Têm que perdoar a Deus termos sido criados.
Têm que perdoar a Deus o terem-me encontrado.
Têm que perdoar a Deus, a vida ser como é, o trabalho ser como é.
Têm que perdoar a Deus serem como são.
Têm que perdoar a Deus terem sido escolhidos.

Porque no momento em que perdoarmos a Deus o ter-nos criado, encontraremos a felicidade na terra.