Lembranças da minha vida
O Conclave reunido depois da morte de João Paulo II elegeu como seu sucessor o Cardeal Joseph Ratzinger, teólogo de renome internacional. Sua eleição, mais ou menos esperada nos meios mais bem informados da Igreja, foi uma grande surpresa e até, num certo sentido, uma decepção em nosso país, que o conhecia mais pelo lado repressivo do papel que exerceu no cerceamento da Teologia da Libertação, do que pela densidade de sua reflexão teológica.
Em Lembranças da minha vida, ele, filho de um comissário de polícia, conta detalhes de sua vida durante o nazismo, primeiro como estudante no seminário fechado pelos "marrons", e, mais tarde, como soldado na Segunda Guerra Mundial. Num relato crítico e sem vaidades, fala das relações familiares, do que marcou sua infância, dos motivos íntimos que o levaram a abraçar o sacerdócio, suas passagens como professor de teologia por renomadas universidades...
Rapidamente depois de eleito, em abril de 2005, Bento XVI deixou de ocupar o primeiro lugar na mídia. Os grandes veículos de comunicação teimam em ignorar as mudanças profundas que o novo Papa vem operando na Igreja, no estilo de governo, no estímulo à qualidade da vida interior, na maneira de expor as prioridades da evangelização e, não menos importante, na forma de se aproximar, pela doutrina e pela prática, dos cristãos que não vivem em comunhão com Roma.
O segredo dessa atuação pouco notada, mas nova, indiscutível e decisiva de Bento XVI é o seu passado, a sua vida inteiramente dedicada à teologia. Desde o fim do primeiro milênio foram pouquíssimos os teólogos eleitos papas. Aqui, vale a pena buscar, na forma como o próprio Ratzinger apresenta sua vida, as prefigurações do desígnio de Deus, que o preparava, pelo exercício da teologia, à função maior na Igreja, de bispo de Roma e sucessor de Pedro.