«Mulher, não chores»
Colocação conclusiva nos Exercícios da FraternidadeRimini, 5 de maio de 2002
Movidos por uma profunda piedade por toda a dor dos irmãos homens
Naquela tarde, Jesus foi interrompido, parado no seu caminho em direção ao vilarejo ao qual se dirigia, ao qual se tinha destinado, porque havia um choro altíssimo de mulher, com um grito de dor que tocava o coração de todos os presentes, mas que tocava, que tocou sobretudo o coração de Cristo.
«Mulher, não chores!». Jamais vista, jamais conhecida antes.
«Mulher, não chores!». Que amparo podia ter aquela mulher que escutava a palavra que Jesus lhe dizia?
«Mulher, não chores!»: quando se volta pra casa, quando se vai no metrô, quando se sobe no ônibus, quando se vê a fila de carros pelas ruas, quando se pensa em todo o amontoado de coisas que interessam à vida de milhões e milhões de homens, de centenas de milhões de homens... Como é decisivo o olhar que uma criança ou um adulto teriam dirigido àquele homem, o qual vinha à frente de um grupinho de amigos e que jamais tinha visto aquela mulher, mas que parou quando o som, o revérbero daquele choro chegou até Ele! «Mulher, não chores!», como se ninguém a conhecesse, como se ninguém a reconhecesse mais intensamente, mais totalmente, mais decididamente do que Ele!
«Mulher, não chores!». Quando vemos – como lhes falei antes – toda a movimentação do mundo, em cujo rio, em cujos riachos todos os homens se fazem presentes à vida, tornam a vida presente a si mesmos, a incógnita do fim nada mais é que a incógnita da maneira como chegaram a essa novidade, aquela novidade que faz encontrar um homem, faz encontrar um homem jamais visto, o qual, perante a dor da mulher que vê pela primeira vez, lhe diz: «Mulher, não chores!». «Mulher, não chores!».
«Mulher, não chores!»: é esse o coração com o qual somos colocados diante do olhar e diante da tristeza, diante da dor de todas as pessoas com as quais entramos em relacionamento, pela rua ou na viagem, nas nossas viagens.
«Mulher, não chores!». Que coisa inimaginável é que Deus – «Deus», Aquele que faz todo o mundo neste momento –, vendo e ouvindo o homem, possa dizer: «Homem, não chores!», «Você, não chore!», “Não chore, porque não é para a morte mas para a vida que eu o fiz! Eu o coloquei no mundo, e o coloquei numa companhia grande de pessoas!”.
Homem, mulher, rapaz, moça, você, vocês, não chorem! Não chorem! Há um olhar e um coração que os penetra até a medula dos ossos e que os ama até o seu destino, um olhar e um coração que ninguém pode desviar, ninguém pode tornar incapazes de dizer o que pensam e o que sentem, ninguém pode tornar impotentes!
«Gloria Dei vivens homo». A glória de Deus, a grandeza d’Aquele que faz as estrelas do céu, que coloca no mar, gota por gota, todo o azul que o define, é o homem que vive.
Não há nada que possa suspender aquele ímpeto imediato de amor, de apego, de estima, de esperança. Porque se tornou esperança para cada um que O viu, que o ouviu: «Mulher, não chores!», que ouviu Jesus dizer assim: «Mulher, não chores!».
Não há nada que possa deter a certeza de um destino misterioso e bom!
Nós estamos juntos dizendo-nos: «Você aí, eu nunca o vi, não sei quem você é: não chore!». Porque o choro é o seu destino, parece ser o seu destino inevitável: «Homem, não chore!»
«Gloria Dei vivens homo»: a glória de Deus – aquela por meio da qual sustenta o mundo, o universo – é o homem que vive, todo homem que vive: o homem que vive, a mulher que chora, a mulher que sorri, a criança, a mulher que morre mãe.
«Gloria Dei vivens homo». Nós queremos isto e nada mais que isto, que a glória de Deus se manifeste a todo o mundo e toque todos os âmbitos da terra: as folhas, todas as folhas das plantas e todos os corações dos homens.
Nós nunca nos vimos, mas é isto o que vemos entre nós, o que sentimos entre nós.
Tchau!