Não um discurso, mas uma presença

Roma - Jubileu
Luigi Giussani

O jorro de humanidade pelo qual todos foram inundados com o primeiro discurso de João Paulo II ao mundo inteiro, feito por ocasião da sua eleição ao pontificado, não poderia deixar de interessar aos jovens.
Na “Carta” endereçada a eles, o Sumo Pontífice afirma: “O período da juventude é o tempo de uma descoberta particularmente intensa do eu humano e das propriedades e capacidades unidas a ele”. É portanto o momento em que afloram com particular intensidade e evidência as grandes perguntas que urgem a busca do sentido último da vida, conferindo à existência um “movimento” particular. O coração do homem, sempre vivo e pulsante, grita o pedido de uma resposta exaustiva, seja qual for a condição em que seja obrigado a viver, mesmo a do esquecimento de si.
Assim, o coração espera sempre algo “outro”, mais precisamente um Outro.
A disposição misteriosa, que essa espera implica, realiza a sua imagem experimentável na busca de uma companhia: “Digo-vos com uma franqueza cheia de confiança que a mais bela e entusiasmante aventura que vos possa ser dada é o encontro com Jesus, o único que dá verdadeiro significado à nossa vida. Não basta buscar: é preciso buscar para encontrar a certeza” (João Paulo II, Discurso aos militares italianos). Jesus diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6).
Essa descoberta da amizade de Cristo entusiasma quando somos jovens; e mesmo quando velhos, pode tornar o coração alegre: com efeito, a juventude é uma postura do coração. Como é para o Papa, que diante de multidões de jovens revela a natureza e o valor da companhia como encontro com Jesus. Não um discurso - como tantos que os jovens ouvem, permanecendo indiferentes a todos e sempre sozinhos -, mas uma presença, como disse o Papa no Angelus de 30 de julho passado: “O cristianismo não pode ser reduzido a doutrina, nem a simples princípios, pois Cristo, centro do cristianismo, está vivo, e a sua presença constitui o evento que renova constantemente as criaturas humanas e o cosmo”.
O acontecimento de Cristo presente é a Igreja como companhia de pessoas que se origina pela presença de um fator genético real, ainda que invisível. A Igreja, portanto, é uma realidade concreta, real, tangível, de pessoas mudadas por um encontro que comunicou a elas um novo tipo de vida, mais alegre, mais humana, aliás, realmente humana, mesmo passando por todos os limites que caracterizam a existência de cada homem.
Todos os fatores da vida, familiares e sociais, tendem por isso a se tornar objeto de uma responsabilidade que constrói a verdade pessoal na história, de forma a que o jovem possa sentir como provocação ideal de todas as suas energias e de todo o seu tempo a memória daquela frase que sintetiza todo o olhar amoroso de uma pessoa: “Era necessário que o heróico se tornasse cotidiano e o cotidiano se tornasse heróico”.
Justamente o que se tornou para o mundo inteiro a figura humana daquele que guia a Igreja hoje.