A aventura do conhecimento

Editorial
Julián Carrón

Reproduzimos aqui a carta que padre Julián Carrón escreveu a todos os membros de Comunhão e Libertação após a participação de muitos amigos à recitação do Ângelus na praça de São Pedro logo depois do cancelamento da visita do Papa Bento XVI à universidade La Sapienza, de Roma. Era também o início da Escola de Comunidade sobre o livro É possível viver assim?, de Dom Giussani

Caros amigos,

dia 20 de janeiro, domingo, muitos de nós se dirigiram, num movimento espontâneo, nascido do íntimo do coração, à praça de São Pedro em sinal de comunhão com o Bispo de Roma, que, pelos conhecidos acontecimentos, renunciara a participar da aula inaugural do ano acadêmico na Universidade La Sapienza para a qual fora convidado. Não há dúvida de que esse movimento de vocês foi o fruto da educação do Movimento para responder às provocações da realidade.
A prontidão em responder é algo que devemos agradecer a Deus porque é sinal da incidência que tem em nós “aquela forma de ensinamento à qual fomos consignados” (J. Ratzinger). De fato, não há outra explicação para essa mobilização espontânea a não ser a consciência do valor que a figura do Papa tem para a nossa vida. Nele, o Senhor ressuscitado comunica a Sua vitória no tempo e no espaço da história humana. Sem o testemunho cheio de autoridade do Sucessor de Pedro ficaríamos desnorteados como tantos nossos contemporâneos: a audiência do dia 24 de março do ano passado foi uma prova imponente disso e marcará para sempre a nossa história. Portanto, seguir o Papa coincide com seguir o impacto da Sua presença. E exige de nós o empenho da razão e da liberdade.
Pudemos experimentar isso quando foi divulgado o discurso de Bento XVI na universidade, que não chegou a ser pronunciado. Nele resplandece aquela “tarefa de manter desperta a sensibilidade pela verdade”. É o seu testemunho indestrutível que constitui para nós a esperança de não sucumbir ao perigo do mundo ocidental, denunciado por ele, de se render “diante da questão da verdade”, porque sabemos bem que “se a razão fica surda à grande mensagem que vem da fé cristã e da sua sabedoria, torna-se árida como uma árvore cujas raízes já não tocam as águas que lhe dão vida”. E desse modo a razão “perde a coragem pela verdade” e se resigna.
Esse grande testemunho do Santo Padre constitui para cada um de nós um excepcional chamado a usar a razão desse modo. Ele no-lo ofereceu contemporaneamente ao início da nova Escola de Comunidade sobre o livro de Dom Giussani É possível viver assim?, cujas primeiras páginas falam da fé como “método de conhecimento”. Nós somos os primeiros a sentir a necessidade de uma educação que nos permita conhecer a realidade até o fundo, a perceber a urgência e iniciar um caminho de conhecimento que nos torne familiar o Mistério. A três anos da sua morte, peçamos a Dom Giussani para continuar a nos fazer companhia no caminho que traçou para nós.
É seguindo a proposta feita a nós pela Escola de Comunidade que poderá se tornar sempre mais nosso aquele olhar totalmente escancarado para o real que admiramos no Papa. Somente percorrendo aquela estrada podemos realmente conhecer, por meio do testemunho, a realidade da qual fala a fé cristã.
Essa paixão pela razoabilidade da fé nos é tão familiar porque Dom Giussani jamais nos enganou, encorajando-nos a seguir em direção à verdade de forma tal que a nossa adesão de fé seja digna da nossa natureza de homens.
Unidos mais que nunca nessa aventura

Milão, 28 de janeiro de 2008

(Editorial publicado na edição de Passos n. 91, março de 2011)